Neoplasias Mamárias na Cadela e na Gata

Definição

Os tumores mamários são uma das neoplasias mais comuns na cadela. A sua incidência aumenta com a idade sendo que a faixa etária mais afetada é a de 10-12 anos. Infelizmente esta patologia é ainda mais comum em Portugal devido à existência de uma grande percentagem de cadelas não esterilizadas. A Ovariohisterectomia (esterilização) precoce confere uma proteção e diminuição da incidência de tumores mamários. Por outro lado, a obesidade e a utilização de contracetivos, aumentam a incidência deste tipo de neoplasia.

Aproximadamente metades dos tumores mamários são classificados como benignos, e uma percentagem elevada de tumores malignos não possuem comportamento agressivo, isto é, não invadem outros tecidos nem se disseminam à distância (metástases). Daqui extraímos algumas conclusões:

  1. A doença mamária na cadela não é tão agressiva como na gata.
  2. Um diagnóstico histopatológico (biópsia) de neoplasia maligna não significa necessariamente um comportamento maligno da doença. Por outras palavras, um tumor mamário maligno pode ser curado por cirurgia.

No entanto, sabemos que o tamanho do tumor mamário é um fator de prognóstico muito importante: tumores de diâmetro superior a 3 cm possuem muito pior prognóstico. Isto pode ser explicado pela teoria aceite de que a neoplasia mamária é uma doença contínua no tempo: um nódulo surge inicialmente como um tumor benigno e que acumula mutações com o tempo adquirindo fatores de malignidade- caraterísticas histológicas de malignidade, invasão de tecidos e capacidade de metastização. Assim, é importante remover qualquer nódulo mamário atempadamente e refutar a ideia de que nódulos mamários existentes há vários anos “devem ser benignos e não precisam de ser removidos”.

Sintomas

O principal motivo que leva um dono de uma cadela com tumor mamário a procurar o veterinário é a deteção de um nódulo junto a uma glândula mamária. Muitas vezes eles são detetados durante uma tosquia ou banho. Assim, na maior parte das vezes não são exibidos quaisquer outros sintomas- a cadela continua com um comportamento “normal”.

Outros sintomas menos comuns que podem estar presentes:

  • Ferida na pele - no caso de um tumor ulcerado.
  • Dor e vermelhidão - no caso do carcinoma inflamatório (CI).
  • Febre e corrimento mamário - quando ocorre infeção da mama concomitante.
  • Perda de apetite - no CI e tumor ulcerado.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito por palpação das cadeias mamárias. Perante a presença de um nódulo na região mamária deve sempre ser realizado diagnóstico histopatológico (biópsia). Na maior parte das vezes é realizada cirurgia com envio da peça para diagnóstico laboratorial. A realização de biópsia incisional (biópsia sem cirurgia com intuição de cura) é normalmente reservada para os casos em que há uma suspeita forte de CI onde a cirurgia radical está contraindicada.  A Citologia também não é normalmente utilizada pois muitas vezes não é conclusiva devido ao facto de os tumores mamários na cadela serem heterogéneas, isto é, possuírem áreas “ benignas” e “malignas” na mesmo nódulo sendo que a citologia não consegue ter representatividade da peça.  Citologia pode, no entanto, ser útil para diferenciar outro tipo de neoplasias que possam surgir na pele perto da cadeia mamária, como por exemplo os mastocitomas.

Como qualquer outra doença oncológica, deverá ser realizado um estadiamento - avaliar quão avançada está a doença. Classicamente são realizados exames radiográficos de tórax para pesquiza de metástases pulmonares, palpação dos gânglios linfáticos regionais. Quando há envolvimento das glândulas caudais deverá também ser realizada ecografia abdominal e toque rectal para avaliação dos gânglios sublombares.

 A OMS propõe o seguinte esquema TNM para avaliar o estadio da doença:

T1- tumor < 3 cm.

T2- tumor 3-5 cm.

T3- tumor > 5 cm.

N0- sem envolvimento do gânglio linfático.

N1- com envolvimento do gânglio linfático.

M0- sem doença metastática.

M1- com presença de metástases à distância.

Quanto mais avançado for o estadiamento, pior é, em regra, o prognóstico.

Para além do tamanho do tumor, o tipo histológico também é um importante fator de prognóstico pelo que se torna extremamente importante a avaliação da biópsia por um patologista com experiência neste tipo de patologia. Fatores importante a avaliar no relatório histológico:

  1. Classificação: adenomas são considerados tumores benignos, enquanto carcinomas e sarcomas são considerados malignos. Sarcomas e carcinossarcomas têm pior prognóstico que carcinomas e carcinomas complexos possuem melhor prognóstico.
  2. Grau histológico: tumores com elevado grau de histológico possuem pior prognóstico.
  3. Infiltrado linfoide: a presença de células linfoides na periferia do tumor revelam a presença de uma resposta imunitária do organismo e um melhor prognóstico.
  4. Invasão vascular: a presença de células tumorais nos vasos sanguíneos podem traduzir a capacidade destas células metastizarem e revelam um pior prognóstico.
  5. Padrão de infiltração: tumores localizados e sem invasão tecidular- carcinoma in situ - possuem bom prognóstico.
  6. Avaliação do gânglio sentinela: mesmo um gânglio linfático de tamanho normal deve, sempre que possível, ser avaliado histologicamente. A presença de células tumorais é um mau fator de prognóstico.

Tratamento

Com exceção do CI, o tratamento das neoplasias mamárias é cirúrgico. A cirurgia permite diagnosticar definitivamente o tipo de neoplasia e permite a cura num grande número de casos.

O tipo de cirurgia a realizar não é consensual. A dúvida reside na escolha entre uma cirurgia mais agressiva e com maior probabilidade de remover doença residual não visível, mas que provoca maior morbilidade (maior período de recuperação,…) ou cirurgia menos agressiva (ex: remoção exclusiva do nódulo, ou apenas da mama afetada) mas que teoricamente poderá deixar doença residual.

Os estudos parecem mostrar que não há diferença na sobrevida entre os dois métodos, mas a cirurgia agressiva parece aumentar o tempo livre de doença. Isto é, uma cadela que faça uma cirurgia menor tem uma maior probabilidade de ter de ser submetida a uma segunda cirurgia para remover um segundo tumor, embora não interfira com o tempo total de vida. De facto, a cirurgia deve ser planeada caso a caso, e cirurgias mais pequenas poderão ser escolhidas para cadelas mais geriátricas em que as comorbilidades são um aspeto mais sensível.

A quimioterapia é outra modalidade de tratamento que pode ser utilizada em alguns casos. Os estudos não são conclusivos quanto à sua utilidade e em que casos, mas regra geral ela é aconselhada nos casos em que há envolvimento ganglionar ou presença de células tumorais nos vasos sanguíneos. Os protocolos envolvem normalmente o uso de Doxorrubicina ou Carboplatina (5-6 sessões cada 3 semanas).

Um novo tratamento médico potencialmente usado é a quimioterapia metronómica que poderá ser utilizada nos CI e em casos de doença metastática não operável.

Hugo Gregório, MV

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