A dermatite atópica poderá surgir com mais frequência em animais jovens (entre 1 e 3 anos de idade), de ambos os sexos, embora também se possa diagnosticar, menos frequentemente, em cachorros com menos de 8 meses de idade ou em adultos com mais de 5 anos. Em muitos casos trata-se de um problema sazonal que surge na Primavera e desaparece no Verão. Com o tempo, o animal pode ir piorando e os períodos de crise podem ser mais intensos e prolongados.
Algumas raças de cães são geneticamente mais predispostas do que outras a desenvolver reações alérgicas. Entre as raças mais predispostas incluem-se: Boxer, Dálmata, Chow-chow, Labrador e Golden Retriever, Setter, Pastor Alemão, Sharpei, Bulldog (inglês e francês), Terriers (West Highland White Terrier, Yorkshire Terrier).
Sintomas
O prurido (comichão) é o sintoma mais característico, tanto nos cães como nos gatos. Como consequência do coçar intenso e persistente, podem surgir zonas com queda de pelo ou a pele do animal pode infetar-se com bactérias ou fungos (certos tipos de leveduras) que dão origem ao mau odor do animal.
Além do prurido, os sintomas que levam a suspeitar de uma dermatite atópica incluem:
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Ruborização do abdómen, axilas, face, orelhas e pés (vermelhão)
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Aparecimento de pústulas no abdómen
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Mordiscar e lamber espaços interdigitais (entre os dedos) e região perianal
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Otites recorrentes
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Pele grossa e grisalha
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Pêlo escasso e sem brilho
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Infeções de pele com recidivas após tratamento
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alopécias (falhas de pelo), arranhões e feridas devido ao coçar, lamber ou mordiscar constante
Diagnóstico
O veterinário realizará um exame completo do animal e estudará a história clinica de cada paciente. Para chegar ao diagnóstico definitivo de dermatite atópica, deverá descartar a presença de outras doenças que podem induzir sintomas semelhantes (pulgas, sarna, infeções de pele, alergias alimentares). Por último, quando todos estes problemas estiverem descartados e os sintomas persistirem, estabelecerá o diagnóstico definitivo, com auxílio de exames complementares (testes intradérmicos ou testes serológicos). Nos testes serológicos, uma amostra de sangue do paciente é recolhida e enviada para um laboratório especializado. A avaliação do resultado destes testes permite a compilação de uma lista de alérgenos aos quais o paciente revelou maior sensibilidade.
Tratamento
Antes de iniciar qualquer tratamento, é importante ter presente qua a alergia quase nunca se cura por completo. O objetivo é controlar os sintomas e diminuir o prurido do animal, melhorando assim a sua qualidade de vida. Não existe um único tratamento capaz de controlar por si só esta doença. Há que recorrer a uma combinação de medidas e fármacos.
A primeira medida consiste em evitar o alérgeno. O problema principal é que, em muitos casos, é impossível consegui-lo. Para evitar os pólens, é importante conhecer as plantas às quais o animal é alérgico e saber em que meses polinizam. Durante este período, podem diminuir-se as saídas com o animal em zonas de vegetação abundante, sobretudo em dias secos, quentes e com muito vento. Ainda assim, existem medidas úteis para minimizar o contacto com ácaros:
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aspirar e retirar as almofadas da zona onde o animal passa mais tempo,
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usar produtos acaricidas para eliminar os ácaros das almofadas, sofás, mantas,…
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utilizar camas e colchões fabricados com materiais antialérgicos
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ventilar e aspirar com frequência a zona onde o animal dorme
Tratamentos farmacológicos
Corticóides: são os fármacos mais utilizados para tratar as dermatites alérgicas. Apesar de serem muitos eficazes no controlo do prurido, é importante saber que apresentam muitos efeitos e podem causar doenças metabólicas a longo prazo.
Anti-histamínicos: têm demonstrado ser pouco eficazes no tratamento desta doença. Em muitas ocasiões utilizam-se dado o seu efeito sedativo que faz com que o animal fique mais tranquilo e se coce menos.
Ciclosporina: é o tratamento mais inovador para a alergia. Este fármaco é um imunossupressor que demonstra ser eficaz em muitos animais.
Banhos com champô de tratamento: a pele dos animais que sofrem de dermatite atópica pode apresentar um vermelhão, crostas e alopécias, bem como pústulas. O simples facto de dar banho ao animal com água tépida, refresca a pele. Os champôs próprios de tratamento ajudam também a remover os alérgenos que aderiram ao pêlo e à pele. Além disso, muitos desses champôs para alergias incorporam em suas fórmulas, ácidos gordos essenciais à pele, vitaminas, ... Ao contrário do que antigamente se recomendava, é aconselhável dar banho com frequência (uma ou várias vezes por semana) aos animais que sofram de dermatite atópica.
Dietas hipoalérgicas: uma dieta equilibrada e de qualidade é vital para conservar as condições da pele. Muitos dos animais que sofrem de dermatite atópica, podem igualmente ter uma alergia a algum tipo de alimento. Em certos casos, unicamente controlando uma dieta e administrando uma que não contenha os alérgenos alimentares, pode-se reduzir o prurido.
Imunoterapia: a imunoterapia (também chamada de tratamento de hiposensibilização ou vacinas), é o único tratamento que atua especificamente contra o alérgeno e que pode conduzir a uma cura do animal. Como tal, será o tratamento de primeira eleição. Trata-se de uma terapia mediante a qual conseguiremos que o sistema imunitário do animal se habitue a contactar com os alérgenos, fazendo com que não reaja de uma forma anormal. Administram-se de uma forma periódica quantidades pequenas de alérgenos que causam os sintomas. Ao iniciar a vacina, o intervalo entre as injeções será curto (uma semana) e irá sendo cada vez maior à medida que se avança com a hiposensibilização. Numa percentagem elevada de cães e gatos, os sintomas de alergia podem ser controlados de uma forma segura e eficaz com uma imunoterapia formulada adequadamente. Infelizmente não existe um único tratamento capaz de curar a doença. Por isso, o mais importante é controlar o animal que sofre deste tipo de reações alérgicas e estabelecer uma combinação de medidas e de tratamentos para melhorar a sua qualidade de vida.